
O Cantinho (trecho de Lunática Psicótica)
“Qual é o caminho?”, um dia quis saber Lunática, “Qual é o caminho para o nada? Para o total sumiço”. Então ela descobriu o Cantinho, encostada em duas paredes na quina do seu quarto, se protegendo dos devastadores males do mundo, apoiada pelos Grandes Blocos de Pedra, a verdade mais concreta que até então conhecia. “Todos falam de amor, mas quando tento nele me escorar, caio de costas estendida no gelo desesperançoso do chão de todos os sonhos”.Mas essa noite Lunática não pensaria em paixões, não traçaria planos maquiavélicos de assassinatos em linhas vermelhas, nem amantes, nem desilusões, pensaria em coisa nenhuma, como se estivesse em lugar nenhum, fazendo nada, agarrado ao eterno vazio, e essa sim era a palavra certa que definiria a querida e mal afortunada pobre princesa da solidão nessa melancólica noite de horrores. Nem músicas loucas e obscuras da década de oitenta, nada de goticismo barato nas telas ou nos papéis, nem isso ou aquilo, nem nada. E somente as pedras, as pedras!, segurariam aquele triste conjunto de ossos lacrimejantes. Ó, aqueles grandes olhos de Ligéia.“Uma eternidade no paraíso não curaria e nem tampouco compensaria um pobre coração sofredor”, coaxa o sapo filósofo na beira do rio. Sobre pedra da sabedoria coloca-se a sábia criatura verde, olha profundo com seus olhos que de tão grandes, de certo vêem coisas horrorosas e tenebrosas que homem nenhum pode ver.“O que você enxerga senhor grande Sapo?” Pergunto a ele.“Croac!” Arremata o Sapo em mais uma de suas colocações geniais.Pois jamais ele poderá falar da extensão de suas visões, pela saúde do mundo e da confusa cabeça do homem. “Aquele bicho chamado homem que passa a vida entocado e encucado buscando a pureza da infância, e a tranqüilidade, e aquela sensação de eternidade dourada”.Lunática puxava insistentemente a roupa de sua mãe, que enfim lhe deu atenção. “Mãe, o que é aquele gato preto fugindo do peixe-soldado pela eternidade afora no grande aquário que na verdade não é um aquário, mas o vasto mundo se expressando?”. E a pequena Lunática sabia que a grande Lunática jamais seria capaz de lhe responder essa questão e nem tampouco ela, muitos anos depois, escondida em seu Cantinho mágico, sendo ela mesma o gato fujão.
“Qual é o caminho?”, um dia quis saber Lunática, “Qual é o caminho para o nada? Para o total sumiço”. Então ela descobriu o Cantinho, encostada em duas paredes na quina do seu quarto, se protegendo dos devastadores males do mundo, apoiada pelos Grandes Blocos de Pedra, a verdade mais concreta que até então conhecia. “Todos falam de amor, mas quando tento nele me escorar, caio de costas estendida no gelo desesperançoso do chão de todos os sonhos”.Mas essa noite Lunática não pensaria em paixões, não traçaria planos maquiavélicos de assassinatos em linhas vermelhas, nem amantes, nem desilusões, pensaria em coisa nenhuma, como se estivesse em lugar nenhum, fazendo nada, agarrado ao eterno vazio, e essa sim era a palavra certa que definiria a querida e mal afortunada pobre princesa da solidão nessa melancólica noite de horrores. Nem músicas loucas e obscuras da década de oitenta, nada de goticismo barato nas telas ou nos papéis, nem isso ou aquilo, nem nada. E somente as pedras, as pedras!, segurariam aquele triste conjunto de ossos lacrimejantes. Ó, aqueles grandes olhos de Ligéia.“Uma eternidade no paraíso não curaria e nem tampouco compensaria um pobre coração sofredor”, coaxa o sapo filósofo na beira do rio. Sobre pedra da sabedoria coloca-se a sábia criatura verde, olha profundo com seus olhos que de tão grandes, de certo vêem coisas horrorosas e tenebrosas que homem nenhum pode ver.“O que você enxerga senhor grande Sapo?” Pergunto a ele.“Croac!” Arremata o Sapo em mais uma de suas colocações geniais.Pois jamais ele poderá falar da extensão de suas visões, pela saúde do mundo e da confusa cabeça do homem. “Aquele bicho chamado homem que passa a vida entocado e encucado buscando a pureza da infância, e a tranqüilidade, e aquela sensação de eternidade dourada”.Lunática puxava insistentemente a roupa de sua mãe, que enfim lhe deu atenção. “Mãe, o que é aquele gato preto fugindo do peixe-soldado pela eternidade afora no grande aquário que na verdade não é um aquário, mas o vasto mundo se expressando?”. E a pequena Lunática sabia que a grande Lunática jamais seria capaz de lhe responder essa questão e nem tampouco ela, muitos anos depois, escondida em seu Cantinho mágico, sendo ela mesma o gato fujão.

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